terça-feira, 31 de agosto de 2010

O que me leva a escrever...

Sou capaz de ficar dias, semanas sem escrever.Nenhuma frase, palavra, nem ponto, nem vírgula, nem nada. Mas vez em quando me dá uma vontade louca de contar as coisas, dizer , botar pra fora, tirar de mim e pôr no papel, pra ficar ali, materializado tudo o que eu vivi, todas as minhas impressões. Escrever é materializar. É criar a prova. É se deparar com a verdade ali, nua e crua. Escrever é se conhecer.
E se não escrevo faz um bocado de tempo é porque eu ando ocupada demais arranjando a nova vida do outro lado do Atlântico. Tentando encontrar elementos na casa onde eu moro pra que eu possa chamar de lar, tentando encontrar nos colegas de apartamento amigos, tentando buscar um chão aonde botar os pés, uma parede pra me encostar. Ainda me sinto flutuando, sem ter os limites que preciso( um teto, um chão e paredes), tudo parece tão vago e tão, mas tão provisório que me dá medo.
Se eu não escrevo é porque sim, eu não sei direito quem eu sou e to tentando me reinventar. Não que vá mudar muito, mas deixei todos os meus parâmetros, os meus espelhos no Brasil. Ninguém aqui me conhece e sendo assim eu também não me conheço. As características mais óbvias são perceptíveis. A fala, o som, as mãos que se mexem enquanto falo rapidamente, o meu jeito mais expansivo e o chimarrão, são o que agora me definem. Sem falar que inventei uma grande mentira - que é a de saber cozinhar bem- que por acaso deu certo. Deixo assim, vou enganando eles devagarinho. Assim como vou tentando me enganar, e criar uma nova vida , uma nova Denise que se alimenta bem e que lê romances na varanda todos os dias. Uma nova Denise que toma chimarrão como se fosse um ritual e que escreve cartas para as amigas que estão longe sentada em banco de praças, ao lado de fontes. Invenção! Pura invenção de uma vida que é sim, guiada e inspirada pelo belo. Uma hora eu canso disso tudo, e a máscara cái e vou me render aos tão famosos doces portugueses, e assistir novelas e ficar sem fazer nada de tarde, e piorar a caligrafia, ou mandar emails e esquecer o chimarrão e deixar a cuia, a bomba e a mateira ( com a bandeira do RS!) amontoadas num canto qualquer do guarda-roupa.
Por enquanto vou seguindo com esse meu mundinho de faz de conta( que poderia ser aqui chamado de adaptação), até porque ele está dando certo. No mundo ideal e belo Denise aprende a tocar violão, se alimenta bem, pratica exercícios, visita lugares belíssimos, cresce e fortalece. No mundo ideal Denise começa a trabalhar essa semana, ou semana que vem, e as aulas iniciam em outubro. E no próximo final de semana- se não estiver trabalhando- vai visitar Sintra com as chinesas, colegas de apartamento.
Desculpem a falta de notícias, e fotos. Eu ando ocupada construindo a minha fortaleza
Mas hoje eu escrevo por duas razões especiais. Porque uma amiga minha também escreve e isso me deixa feliz, acho que todos deveriam escrever, sempre. As coisas devem ser ditas, as impressões deixadas, não dá- definitivamente- pra ficar guardando todo um mundo que é só nosso, que se passa dentro da gente como um maremoto, um furacão, pra sempre, como se nada tivesse acontecido. Nossa vida interna é sempre muito mais viva( e cheia de expectativas, felicidades, recordações e dúvidas) do que a aparente. É preciso dar voz, vazão pro  que está lá dentro. Um passarinho numa gaiola e a alma , Kundera já falou sobre isso.Abre a gaiola, deixa ele voar um pouco, pra respirar, pra cantar em paz.
Escrevo também porque um amigo que estava viajando  me escreveu contando da sua e da  minha vida. Acho estranho isso, o fato de algumas pessoas saberem mais da minha vida do que eu mesma, ou se preocuparem com as minhas coisas e o meu bem estar. Fico feliz pelo cuidado e preocupação, e pelos votos de felicidade e pelos "tudo vai dar certo". Fico feliz pela amizade e por saber que , no final das contas, longe ou perto, as pessoas são muito mais bonitas e complexas do que parecem. Que estão lá, com seus passarinhos nas gaiolas, querendo voar, querendo dizer o que de fato ( e isso é o que mais escondemos) importa, o que mais dói, o que mais sente e ama, e o que incomoda e dá aquele desconforto no peito. Escrevam, pois , tudo o que quiserem escrever. Me escrevam, me contem das coisas da vida, vão para além da superfície, esqueçam as coisas banais, me falem dos medos de sempre, das angústias e das felicidades, e das lembranças mais belas. Me falem o que de fato toca porque só assim poderei saber de fato quem são.

2 comentários:

Renata! disse...

Adorei o texto...
Lembrei dos 13 dias,
Da viagem,
Das nossas conversas,
Das bobices,
Dos medos!

Tudo de bom nessa nova fase, e talvez não seja necessário "cair a mascara"... Talvez ela já tenha caido, e agora vc esta conhecendo a verdadeira "Dê".

beijinhos

MEMÓRIAS disse...

Querida!

Já foste e eu nem me despedi... afora aquele encontro rápido e ao acaso no centro da cidade.

Aliás... lembras da cidade?
Pois esqueça-a um pouco!!

Concentre-se na tua vida enquanto ela for por aí! E sejas muito feliz!

Quanto a escrever, concordo com tudo: escrevo porque preciso, invento personagens que são muito de mim e muito de nada; conto da vida... da minha e dos outros... escrevo para escapar da loucura (como eu já disse em outras oportunidades)!

Fica bem e te cuida... e vê se volta um dia e, aí sim, pensa na cidade.

Bjão,