Humor do dia...

Querido psicanalista!

Hoje estou com o humor assim, mais ou menos. Nada ruim, nada de crises e chorinhos e lencinhos e nem de auto piedade. Mas também nada de maravilhoso, não estou desfilando um sorriso bobo na cara, achando tudo lindo e nem pensando que a minha vida deveria ser um musical divertido e alegre, onde cada ação banal merecesse ser cantada e dançada... Lá vai Denise preparar o café, tchubiruba bááááá e uma dancinha enquanto prepara a torrada! Tchum berin berin Dum!!Enquanto varre a casa ou arruma a mala, e a dança das roupas vira algo mágico, colorido e super divertido!!
Felicidade com ações banais da vida me lembra muito propagandas de remédios para cólica ou dor de cabeça. Até que faz sentido, não pretendo aqui desconstruir as propagandas da Neosaldina ou de Atroveran( tomou, passou) que geralmente começam com mulheres se queixando para as amigas com uma cara de pum e terminam com as moças felizes se arrumando pra alguma baladinha. Só quem sente cólica e dor de cabeça sabe o quanto esse alívio deveria ser cantado!Mas cantado com a nova onda de músicas alegres e divertidas dos últimos tempos, como aquelas da propaganda do Mercado livre ou mesmo a trilha sonora do filme Juno. Muito queridinhas, por sinal.

Bem, mas voltando ao meu estado de espírito... Ontônti( como diria a minha avó) eu estava mal, eu estava péssima na verdade( música triste e violinos : ON) afundada nas minhas crises depressivas mensais, me sentindo a pessoa mais feia, mais gorda, mais burra, mais sonsa, mais esquisita,mais sedentária, mais normal,mais fútil, mais patética, mais atrasada, mais solteirona, mais carente, mais insensível, mais cruel e mais dependente da face da terra. Some-se a isso a pessoa mais pobre, mais sem criatividade e mais sem consciência social do Mundo.
Bem típico meu, isso... Acho que não deveria dar tanto valor a mim mesma, como se eu tivesse que ser algo, como se fosse meu destino ser alguém de sucesso (coff coff), bonita, magra e com consciência social... Deveria aceitar que bem, a vida é uma bosta de vez em quando, mas passa. Sempre passa. E depois volta por uns dias , e depois passa de novo e lá ficamos nós chorando sobre o mesmo leite derramado de sempre. Esse é o eterno ciclo da vida( como já diria o Mufasa, pai do Simba) e precisamos nos acostumar com ele e aprender as coisas. Não se trata de não sofrer e não chorar, até porque li numa revista "muito confiável" que chorar emagrece pois ajuda na eliminação de líquidos e diminui o inchaço o.O
Mas trata de não fazer desses nossos dias o fim do mundo. Tá ruim, pára, senta, respira, chora que amanhã ou depois passa.
Ou dorme, que é a melhor maneira de passar o tempo e se acalmar. Aliás, me lembro perfeitamente que lá pelos meus 10 , 11 anos eu dormi quase o dia inteiro antes da Páscoa, estava tão nervosa a espera dos chocolates e da caça ao ninho que a mãe mandou eu dormir pro tempo passar mais rápido!( e logicamente, pra parar de aporrinhar, perguntando a todo momento quantas horas faltavam pro coelhinho, ou ainda querendo subverter as regras da Páscoa, propondo a caça ao ninho logo após a meia noite) Não é que funcionou?! Tudo bem, que acordei as 5 da manhã enchendo o saco de todo mundo na casa da praia! Saí correndo e fui achar meu ninho/ cestinha atrás da bicicleta! Meu ninho e meu ovo Ouro Branco! Aiai, que felicidade! Depois de comer uns três Bis e uns Confetes, finalmente consegui dormir aliviada...
O fato é que eu cresci e não preciso mais envolver as outras pessoas nas minhas crises existenciais/profissionais/sentimentais...
Percebo enfim( e olha, isso é um insight!!) que da mesma forma que preocupava a minha mãe quando via o desespero de uma criança gordinha, andando de um lado para o outro, roendo as unhas,se recusando jogar bola e ir ao centrinho, preocupada com o tempo que não passava,inquieta e angustiada só pensando na cestinha de Páscoa, repleta de chocolates e alegria, também preocupo as outras pessoas com meus dilemas existenciais e com as minhas projeções... É triste isso, é trágico! Já não bastasse cada um ter seus próprios problemas lá vou eu pedir que se preocupem e se importem com os meus!
No seu caso é diferente, né? Afinal você recebe pra isso, pra ouvir e se preocupar( ou fingir que se preocupa) com os problemas alheios, sem dar nenhum pitaco, nenhum conselho, sem julgar, sem nada... apenas esperando que nós mesmos percebamos os nossos erros e caminhos a serem seguidos. Vida dura essa de psicanalista, não?

Enfim, não sei se isso é, na verdade uma constatação que vai mudar meu comportamento de agora em diante, me fazendo uma pessoa mais confiante e menos dependente e insegura ou se também não faz apenas parte do "Ciclo da Vida", como uma fase de consciência e de aceitação...que depois passa para negação e esquecimento e por aí vai.
Sei que é a vida, e é parte do que eu sinto agora, do que escrevo agora nesse meu estado mais ou menos de humor. Que eu definiria como normal, assim como são as coisas da vida. Na maior parte do tempo vivemos dias normais e medíocres, onde todas as coisas se repetem sem grandes emoções.. Acordar, café, aula, nadismo, comer e dormir. De vez em quando temos aquele dia brilhante, extraordinário ou péssimo, mas no geral a vida é bem assim, cinza, bem mais ou menos... Não fiquemos tristes por isso, oras bolas, ninguém nos disse que viver ia ser perfeito. É apenas uma rotina que temos que seguir até o fatídico dia... uma rotina temperada de vez em quando com coisas tristes e alegres, que ficamos lembrando durante os dias cinzas, pensando que a nossa vida é uma montanha russa, quando de fato é bem monótona e mesquinha.